São inegáveis os avanços conquistados pelo cooperativismo brasileiro nas últimas décadas. Independentemente da frequente instabilidade macroeconômica e do marco regulatório, é consistente o crescimento do número de empregos gerados, da renda e da qualidade de vida das pessoas que direta ou indiretamente atuam no setor.
No entanto, são imensos os desafios e significativas as oportunidades para que haja efetiva consolidação da sustentabilidade desses empreendimentos. Trataremos aqui de alguns deles, com foco nos temas da estratégia e da gestão e mais especificamente na urgente necessidade de produzir, tratar, analisar e comunicar estatísticas confiáveis sobre o setor, condição necessária para o aumento da competitividade das cooperativas, visando a geração de resultados concretos para as partes interessadas.
Em recente trabalho de consultoria realizado junto a Organização da Sociedade Civil, verificamos que uma das boas práticas adotadas pelas 100 maiores nacionais é a disponibilização nos sites dos relatórios e balanços anuais, algo que confere credibilidade institucional para a captação de recursos, agregação de parceiros institucionais e, principalmente, transparência dos atos de gestão, algo que poderia servir de inspiração para as cooperativas.
Outro tema que sempre é destaque nos estudos e pesquisas realizadas junto aos dirigentes e cooperados é a necessidade de melhorias no processo sucessório. Ao longo dos últimos trabalhos realizados junto às cooperativas, constatamos que, mais relevante do que o tempo dos gestores à frente das cooperativas, é a pactuação dos resultados que serão entregues durante o mandato, os quais dependem de indicadores e metas claras, confiáveis e acessíveis.
O desenvolvimento de produtos depende, entre outros aspectos, de pesquisas de mercado, interações com os clientes, análise de dados dos ambientes interno e externo e, fundamentalmente, de uma capacidade razoável de processamento dessas informações. Poucas são as cooperativas preparadas para realizar esse tipo de trabalho de forma sistematizada. Se analisarmos os desafios e oportunidades no campo da inovação, fica evidente a necessidade de avançar na busca de soluções nessa área.
Ampliar a base de clientes e cooperados e reforçar os princípios do cooperativismo também é um gigantesco desafio, que depende de uma comunicação interna e externa cada vez mais assertiva. Para que haja êxito nessa empreitada, é necessário que sejam realizadas sondagens periódicas sobre a atuação das cooperativas e de todo o Sistema, o que por sua vez também depende de um processo estruturado e sistemático de produção e análise de dados, com recortes por ramo, regiões, produtos, etc.
Finalmente, é preciso saber se o conjunto de cooperativas e se o próprio Sistema estão entregando o que está previsto nas respectivas estratégias institucionais e adotar medidas de gestão tempestivas para que os objetivos sejam alcançados, atividade que depende de uma capacidade robusta de processar e analisar dados, que pode ser ampliada na medida em que haja informação disponível e confiável para que os vários atores (cooperativas, cooperados, universidades, governos, legislativo, judiciário, empresas de pesquisa, empreendedores, etc.) possam ajudar nessa construção.
O uso intensivo das técnicas existentes no campo da analytics, entre outras, estão consolidadas em várias organizações brasileiras e é um dos fatores que sustentam a ampliação da sua competitividade. Para que as cooperativas consigam superar alguns dos desafios aqui apresentados, será necessário investir estrategicamente nessa área.
Texto originalmente publicado no site da Revista MundoCoop. Disponível em http://www.mundocoop.com.br/artigos/producao-analise-e-divulgacao-de-dados-como-fator-de-ampliacao-da-competitividade-das-cooperativas-brasileiras-emanuel-falcao-consultor-e-socio-proprietario-da-vertice-consultoria.html